Epidemias e Sustentabilidade
- Administrador
- 3 de mai. de 2020
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A epidemia de Covid-19 e o rápido espalhamento do novo coronavírus nos remete a uma conversa óbvia, mas ainda obscura para muitos: a intrínseca relação entre sustentabilidade e o surgimento de doenças emergentes.
Dentro do contexto atual, é difícil que uma solução definitiva venha rapidamente pelo próprio modo como a ciência funciona, muito embora, a partir do conjunto de evidências acumuladas em outras epidemias e nesta própria, os cientistas tenham dito desde o início o que fazer para evitar o espalhamento do novo coronavírus.
No foco da sustentabilidade, todas as epidemias recentes que tivemos são zoonoses; isto é, tem origem animal. Isso acontece quando um vírus, por exemplo, que convive com animais selvagens (às vezes por milhares de anos), encontra um novo hospedeiro. Quando esse novo hospedeiro é humano e não tem defesas para esse vírus, isso cria uma nova doença, como no caso da Covid-19. Em um mundo hoje super conectado fisicamente, a disseminação do vírus é quase inevitável e ocorre de forma exponencial, como temos observado. Isso aconteceu com a Ebola (1969), Nipah (1999), SARS (2002), H1N1 (2009), MERS (2012) e Covid-19 (2019), para citar algumas.
Mas afinal, o que isso tem a ver com sustentabilidade? Como exposto no filme “Epidemia”, de 1995, os indicativos são claros. O desmatamento de florestas, que nos coloca em contato com espécies selvagens e possibilita o contato com agentes infecciosos; o tráfico de animais silvestres, que aumenta as possibilidades de contágio; a introdução de espécies exóticas, que levam doenças a ecossistemas que antes não as tinham; a incredulidade dos governos e a não-resposta rápida para conter o avanço da doença, acontecem hoje.
Dentro desse caldeirão de situações indesejadas acontecendo que nos leva à pergunta não de qual será a próxima epidemia, mas quando ela ocorrerá? Alguns centros ao redor do mundo têm se dedicado a monitorar e gerar modelos de previsão para isso. Os locais mais óbvios para isso acontecer são aqueles com alta densidade populacional, pobreza, pouca regulação fitossanitária e saneamento básico precário.

Entretanto, o “remédio” para diminuir a possibilidade de que novas doenças e epidemias surjam dessa maneira já existe e ele se chama Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Esses objetivos fazem parte da Agenda 2030, que segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) é “um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade”. Lá você vai encontrar 17 grandes objetivos, complexos e ambiciosos, mas que funcionariam como uma vacina para o mundo moderno em casos como o que estamos vivendo. Desde o primeiro objetivo, “Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares”, fica claro que nós, humanos, somos a chave para garantir a sustentabilidade do planeta. Sem pobreza, doenças emergentes seriam muito, muito raras. O segundo objetivo, “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável” também eliminaria (ou reduziria drasticamente) a fome, a ingestão de animais silvestres como alimento, ou a criação dos mesmos em cativeiro.
Também se destacam os objetivos 6 (garantir acesso à água e saneamento básico a todos), 13 (combater as mudanças climáticas) e 15 (proteger e restaurar os ecossistemas terrestres). Vale a pena ver todos os objetivos e se inteirar sobre essa conversa que envolve todos os países do mundo. Refletir sobre um mundo melhor, sobre como atingir tais objetivos é o primeiro passo para sair dessa crise. Reconhecer que já temos uma cartilha e um dever de casa que nos previne de epidemias como a da Covid-19 é outro passo importante. Criar políticas públicas e implementar as ações para que esses objetivos sejam cumpridos é o próximo passo, porém de maior dificuldade pelos signatários.
Fonte: (o)eco
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